No café
Começou como
havia de começar. Não havia outro destino para elas. Márcia era uma jovem
jornalista intelectual. Júlia era a executiva mais elegante que circulava aos
arredores daquele quarteirão. Talvez de toda a cidade. Um café em uma tarde a
meio sol era lei para ambas. E como não se viram antes? Faltavam os detalhes,
os mínimos detalhes. Noutro dia Márcia levantara para sair e logo Júlia sentou
em seu lugar, não trocaram sequer olhares. Outrora elas se esbarravam no
supermercado, mas como desconhecidas não se viam. Márcia pagou com três moedas
para facilitar o troco para Júlia. Os pedidos de café muitas vezes vinham na
mesma bandeja e duas vezes trocados.
_ Tem alguém
no banheiro?
_ Já deve sair.
O quadro na
parede era mais interessante. Não havia as trocas, eram apenas duas pessoas em
uma fila. Duas pessoas que não conheciam seus destinos cruzados.
Certa sexta
pela manhã e diferente de sua rotina, Márcia acorda mais cedo e vai ao café
para despertar. Júlia precisava chegar mais cedo ao trabalho, dia longo de
reunião. No café tudo era como devia ser. Um pedido, um café, a conta.
_ Por favor um
café duplo Sandrinha que hoje preciso despertar! – Pede Márcia à amiga de longa
data Sandra, desde os tempos do primário.
_ Caiu da cama
princesa? Retruca a amiga.
_ Na verdade
não consegui dormir. Tenho uma matéria para fazer que está me deixando louca.
Não sei por onde começar. Meu redator já me cumprimenta como despedida.
_ Nossa amiga,
que eu me lembre isso é novidade para você. Aqui o café. Duplo.
_ Bom dia
Júlia, hoje é dia de todos acordarem mais cedo? Tudo bem? Um café descafeinado
e o que a traz aqui tão cedo?
Uma voz suave
e levemente rouca com tom de mulher madura retruca:
_ Desliga
aquela empresa da tomada que eu não sou liquidificador.
Murmuro de
risos ao seu lado e longo olhares curiosos e sonolentos.
_Sandrinha,
amiga, vou indo.
E olhando para
a loira estonteante ao seu lado conclui Márcia:
_ Antes que eu
vire sopinha de liquidificador.
Risos e mais
olhares.
Depois de um
dia cansativo, Márcia retorna ao café e senta dessa vez em uma mesa mais
isolada, parecia cansada, triste.
_ Nossa amiga,
não fazemos massagem aqui. Quer um chá de sai-pra-lá-urucubaca?
_ Ai Sandrinha
só você mesmo para me animar depois de um dia desses. Mistura tudo nesse chá
que quero ir embora dormir.
_ Cruz credo, vou
colocar sal grosso.
Risos.
Júlia sai do
trabalho e cansada pensa em ir embora direto para casa. No caminho resolve que
um cafezinho não seria perda de tempo, como sempre.
Como de
costume chegou e sentou nas mesas do fundo, com seu notebook ligado à mesa.
_ Por favor
Sandra um chá com tudo que tem direito para ver se eu volto a respirar.
_Minha nossa,
com sal grosso também? Hoje é dia...
Risos.
Márcia levanta
e sem querer esbarra na cadeira de Júlia, e em sua total dessintonia prende um
dedo entre elas.
_Ai caramba!
_ Calma que te
ajudo – prontamente Júlia.
_ Muito
obrigada, salvou meu dedinho e colocou sua cadeira no meu pé.
_ Desculpa,
como sou desastrada.
_ Não você é
um liquidificador.
Risos.
_ Antes, agora
sou um radinho sem pilha. Hoje o dia foi muito corrido e acabou a força.
Ambas percebem
que seus olhos estavam mutuamente perdidos.
_ É...Eu me
chamo Márcia, prazer.
_ Sou Júlia,
prazer é meu. Posso me redimir se sentar e tomar um café comigo?
_ Olha eu
estava de saída, mas este será seu castigo. Mesmo sabendo que agiu tentando me
ajudar.
Mais risos.
Longas
conversas, mais cafés, chás, olhares. De repente não havia mais cansaço, elas
estavam enérgicas. As pernas as vezes se encontravam no entusiasmo e logo uma
desculpa intencional.
Júlia sentiu
um calor ao toque de Márcia em suas mãos, e em meio a tanta fala sua mente
paralisou naquele momento e não mais ouvia a falante de seu lado. O mundo havia
congelado.
_ Júlia?
Júlia?
_ Ah, oi...
Estava no mundo da lua.
_ Percebi,
ouviu alguma coisa que falei?
_
Sim...Não...Desculpa..É que...Que lindos olhos azuis você tem.
Júlia não
entendeu porque tinha falado aquilo, que vergonha sentiu.
Márcia
explodiu por dentro, um elogio de uma mulher maravilhosa como aquela, não
entendeu o que lhe aconteceu, mas agradeceu o elogio.
Ambas
perceberam a tensão, a excitação, os olhares, os lábios molhados. O momento era
riquíssimo de sensações e não havia palavras, elas fugiram de suas bocas. Um
silêncio eterno percorria aquele segundo interrompido por Sandra:
_ Acho que o
chá fez efeito para as duas não é?
Júlia e Márcia
ainda contemplavam em seus profundos olhares e nenhuma palavra parecia sair,
quando Márcia, ainda sem tirar os olhos de Júlia diz:
_ Parece que
fez efeito mesmo, estou muito melhor.
Márcia sentiu
as coxas de Júlia levemente encostando-se às suas e suspirou fundo.
_ Bom, desejam
mais alguma coisa?
_ Não,
obrigada Sandra, já estamos de saída.
Estamos?
Perguntou Márcia para si, mas entendeu o recado.
_ Por minha
conta, por meu desastre – disse Júlia.
_ Não, eu não sentei por esse motivo. Vamos
dividir.
“Não sentei
por esse motivo?” Por qual então eu sentei? Perguntou para si Márcia novamente.
Nada mais fazia sentido, queria apenas tocar aquela mulher a sua frente.
Como Márcia
caminhava até o trabalho, não usava seu carro, por isso aceitou a carona para
seu apartamento.
Na despedida
um beijo no rosto que toca o cantinho dos lábios. Márcia abre os olhos e
parecia que fora o melhor beijo de sua vida. Sem censura pergunta:
_ Sobe?
_ Vamos para o
meu – responde Júlia.
No caminho um
silêncio repleto de vontades, de curiosidades. Márcia olhava a silhueta das
coxas, queria tê-las nua. Aquele perfume parecia feitiço.
Chegando ao
apartamento Márcia diz que se sentiria melhor com um banho. Júlia a leva até o
banheiro. Que olhares profundos.
_ Por que não
toma comigo?
Júlia faz
sinal positivo e retorna com um champanhe.
_ Dia longo e
noite mais longa ainda – celebra Júlia entrando ao lado oposto da banheira
completamente nua, sem pudor.
Márcia já
dentro observou aquela deusa, as suas curvas, a sua perfeição.
Brindaram pela
noite. Júlia não resistiu aos olhares por muito tempo, tomou um gole e
escorregou suas mãos para as pernas delicadas de Márcia e logo inclinando para
perto de sua boca. Que beijo macio, molhado, terno, ardente. Elas se entregaram
àquele momento. As mãos percorriam os seios enrijecidos. Márcia leva as mãos na
nuca de Júlia e traz para mais perto de si, provocante morde-lhe os lábios,
beija-lhe o pescoço. Que sintonia mais perfeita, tudo eram ondas de sussurros e
prazeres. Mais champanhe, menos palavras, mais toques, menos pudor.
_ Vamos para a
cama? – Indaga Júlia
Com um beijo
Márcia acena positivamente àquele pedido.
Júlia sai da
água e Márcia se perde naquele corpo, que seios redondos, desenhados, as coxas
grossas de músculos e femininamente desenhadas, aquela barriguinha trabalhada,
que vontade de morder que deu. Logo Júlia estende uma toalha para Márcia que
sai já puxando aquele corpo para si e beija-a com ardor.
O caminho até
a cama fora longo, entre paradas e risadas chegaram ao destino e ali se
consumiram.
E de repente
já era dia. O sol batia na janela e a vontade era de esquecer o mundo. E
podiam, era um lindo sábado ensolarado. Café-da-manhã na cama e juras de eterna
felicidade.
E Sandra? Ela
já sabia desde o começo, um dia elas se encontrariam e seriam muito felizes
juntas.